Saúde Mental e Relacionamentos: Uma Jornada de Identidade
Entre as decisões mais significativas da vida, a escolha do parceiro afetivo e da profissão ocupam lugar central. Essas escolhas, porém, coexistem com uma demanda paradoxal da modernidade: a busca por um equilíbrio impossível. Afinal, desempenhamos simultaneamente papéis tão diversos como filhos, pais, profissionais, amigos e membros de comunidades – uma teia de relações que exige constante adaptação. Se os caranguejos-eremitões podem viver em isolamento absoluto, nós, humanos, somos seres intrinsecamente sociais. Relacionar-se não é apenas uma necessidade, mas um ato de sobrevivência.
A Busca por Equilíbrio
Contudo, construir conexões saudáveis implica lidar com frustrações inevitáveis. É aqui que o perdão emerge como pilar da saúde mental: não como uma concessão ao outro, mas como um gesto de liberdade interior. Nossa história relacional começa antes mesmo do nascimento, no útero materno, e segue em rupturas e reconstruções. O primeiro desapego ocorre ao virmos ao mundo, substituindo a simbiose uterina pelo vínculo com o seio materno. O desmame, por sua vez, inaugura a relação com figuras parentais – reais ou projetadas – que moldam nossa percepção de afeto e segurança.
Transformações na Infância e Adolescência
Na infância, as professoras tornam-se objetos de admiração e, posteriormente, de “perda” simbólica à medida que avançamos nos ciclos escolares. A adolescência amplia essas dinâmicas: as transformações hormonais, os pesadelos vívidos e a oscilação entre grupos sociais refletem a crise identitária própria dessa fase. Ao ingressar na universidade, mergulhamos em um universo de questionamentos existenciais: “O que penso sobre a vida? Como sou percebido pelos outros?” Surge então uma armadilha: a ilusão de que devemos explicações ao mundo, quando, na verdade, a única dívida genuína é conosco mesmos.
A Decisão de Escolher
Isso nos leva a refletir: são realmente a escolha do parceiro e da profissão as decisões mais cruciais? Ou seriam espelhos de uma questão maior – nossa relação com o dinheiro, o material e o espiritual? A forma como interagimos com o mundo externo revela muito sobre nosso universo interno. Freud já apontava que não somos entidades estáticas: somos feitos de memórias, esquecimentos, diálogos, erros e impulsos incontroláveis.
Relacionamentos como Ferramentas de Autoconhecimento
Nesse contexto, os relacionamentos funcionam como ferramentas de autoconhecimento. Quando nos perguntamos “Como me vejo nos outros?” ou “De que modo sirvo de referência para eles?”, estamos diante do cerne da identidade humana. A busca por significado passa inevitavelmente pela forma como nos conectamos – e é aqui que a espiritualidade se entrelaça à psicologia.
A Empatia Radical
Se enxergar o próximo como “imagem e semelhança de Deus” soa abstrato, podemos traduzi-lo em termos práticos: reconhecer no outro a mesma complexidade que nos habita – medos, contradições e potencial de crescimento. Quem não cultiva essa empatia radical pode até construir uma felicidade superficial, mas jamais sustentável. Afinal, o sofrimento emocional muitas vezes surge do descompasso entre nossas expectativas e a realidade dos vínculos que mantemos.
A Saúde Mental e o Desequilíbrio
Em última análise, a saúde mental não reside no equilíbrio perfeito, mas na capacidade de navegar desequilíbrios. Relacionar-se consigo e com os outros não é opcional: é a própria engrenagem que move (e dá sentido) à brevidade da existência material.
Contato com o Psiquiatra
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